9 de abr. de 2011

Conto nº 9

 Palhaçada
E ali eu me encontrava.Pronto para mais um fim de semana incrível com meus pais.Eles sempre conseguiam me deixar feliz.Sempre havia uma novidade.O circo havia chegado,atração do momento,e eu iria contemplar aquilo.Mal podia esperar.
Chegamos às 17:50.Sentamos bem à frente.Passados 10 minutos o show começara.Estava perfeito,os malabaristas,os mágicos,os animais(se bem que eu não gostei muito da idéia deles em um circo).Mas,ali,no fim,de mais especial,pra mim:os palhaços.Eu não entendia nenhum deles,era tão incrível,como eles conseguiam ser tão engraçados.Eram mestre naquela arte,conheciam o ponto fraco do riso de cada um.Eu me matava com a apresentação deles.Todos riam.Mas eu estava realmente intrigado,e nunca entendera porque aquelas máscaras e fantasias todas.
O espetáculo acabou com eles,e todos aplaudiram.Belíssimo.Fiquei olhando eles saírem,e no fim,quando iam deixando o palco,um olhou pra trás.Não sei se fora impressão,mas ele olhou triste.Fiquei pensativo.Disse aos meus pais que queria vê-los.Eles disseram que era possível.
Fui ao camarim de um deles,o mais velho.Ele estava começando a tirar a maquiagem,a "máscara".Então perguntei como era ser um palhaço,falei que achava incrível,que eles eram extremamente felizes,mas ele parou e olhou.Depois de um bom tempo,respondeu:
-Querida criança,nós não somos exatamente assim.Os palhaços são sim,mestres do riso e da alegria.Mas se prestar bastante atenção,nunca rimos das nossas piadas.Apenas levamos a alegria,que um dia fora tirada de nós.Não podemos mais sentir tanta alegria assim quanto os espectadores,porque somos treinados.Já que não podemos ser tão felizes,fazemos com que outros sejam assim.Por isso usamos máscaras,para esconder nossa realidade e verdadeira identidade,para sermos outros,e por um momento fingir que tudo é incrível,e tudo está bem.Não passamos de falsas felicidades.Apenas um palhaço poderá entender outro,porque só um sabe o que o outro passa.Eu perdi toda minha família,sobrando apenas meu irmão,que está no camarim ao lado.Já sofri muito,já fui feliz,já ganhei presentes bonitos,tive muitos amigos,ia ao circo com frequencia,mas tiraram isso de mim.Não culpo a ninguém,nem nada.Dou o melhor de mim para levar alegria aos outros,que é a única coisa que me dá prazer nesse mundo.Assim acho que algum dia recuperarei minha felicidade.Espero que tenha gostado da apresentação,isso me deixará feliz.Acho que isso é ser um palhaço.
Sai daquela sala com um grande respeito pelos palhaços,e por aquele homem.Mas,ao chegar na saída,vejo meus pais brigando feio por algo que tinha a ver com casamento.Eu fiquei assistindo,e,depois de um bom tempo,foram perceber minha presença.Aquilo já acontecia a um tempo,e eu estava com medo.Em casa,antes de dormir,fui no quarto deles,dei um beijo em cada um,e disse:
-Quero que vocês saibam que amo muito vocês,e não importa o que aconteça,quero que permaneçamos juntos.Vocês me trazem alegria até em tempos de guerra,quando estou triste e cansado.Eu só queria que essa alegria fosse retribuída,e que se estiverem passando alguma tempestade,quero que me deixem muito feliz,pois sei que isso trará a felicidade de ambos.E essa felicidade vai trazer bem para os dois,e isso fará o tempo abrir.Saibam que amo vocês.Boa noite.
Me escondi atrás da porta,logo após sair,e me pus a escutar.Meus pais se beijaram e conversaram:
-Sabe,acho que estamos fazendo tudo errado.Estamos nos preocupando demais conosco,e isso está nos destruindo.Nosso ego puxa para o lado oposto,e pensamos só na gente.A concepção de família está esquecida.Nem sequer reparamos a felicidade do nosso filho hoje.Talvez se dentro de toda essa tristeza e raiva,conseguirmos apenas deixar quem amamos e queremos bem extremamente felizes,isso mude a nós mesmos.Se levarmos alegria aos mais importantes para gente,mesmo estando tristes,talvez essa tristeza passe.Talvez a nossa resposta esteja no outro,e não em nós.Talvez a resposta da separação do nosso casamento esteja naquela pessoa que acabou de sair,e que nos deu uma grande lição.Se nos separarmos,isso o magoará.Se nos amarmos,isso o deixará feliz,e consequentemente a nós.A felicidade do outro se torna a nossa,quando o outro importa pra gente.Quero que saiba que eu te amo,e que não vou te deixar.O mais importante pra mim,hoje e sempre,é a tua felicidade e bem estar.
Naquela hora,fui para a cama,feliz,sabendo que tinha sido um palhaço naquele dia,pois levara a alegria a outras pessoas,mesmo estando triste e com medo de que algo ruim acontecesse.O que aconteceu foi que todos ficaram felizes.Ser palhaço não é só fazer graça e fazer a pessoa rir naquele momento.Rir é algo que se vai,como folha de outono.Sorrir é algo que fica,e é isso que os verdadeiros palhaços querem mostrar ao seu público.Rir é o melhor remédio,mas sorrir é a verdadeira solução.

FIM
Agradecimentos Especiais ao grande Amigo,Nonay Foralskelse,que me ajudou a escrever esta história.

20 de fev. de 2011

Conto nº 8

Uma rosa e um cigarro.
Calçou a meia.Colocou o tênis.Vestiu a camisa.Perfumou-se.Estava pronto.O encontro de 1 ano de namoro estava pra acontecer.Ele estava tenso.E sorridente.
Beijou a mãe e o pai.Fechou a porta.Eram 20:00 e ponto.Entrou no táxi.O buquê e sua mão implorava que ele o soltasse,tamanha sua ansiedade.Às 20:30 chegou ao local marcado.Estava cheio e as pessoas pareciam fora de si.Ele não estava nem ai.Sentou-se e pediu um whisky puro,com gelo.Enquanto apreciava seu drinque,lembrou todos os momentos que viveram até aquele dia.Os passeios no parque,a praia,os beijos no alto da velha estátua que lembrava seu avô.As mãos dadas.O calor do corpo.A saudade quando viajou.O abraço quando voltara.Ela bonita na sua formatura,prestigiando-o.E aquele dia seria mais um marco na vida deles.É assim quando se tem um relacionamento.Tudo é importante.Um sorriso,uma mensagem,um beijo,uma ligação perdida durante o banho.Duas mãos juntas.
Ele olhou para o relógio.20:52.O tempo voa.E como voa.Se você não faz o que é necessário no tempo que lhe é dado,você cai.E todo o seu progresso é perdido.
21:00
Finalmente,se levantou,e foi ao banheiro se arrumar.Ela chegaria a qualquer momento.21:15.O tempo voou.E nem sinal de sua bela dama.Mulheres,pensou.Tem seus dramas,de chegar atrasadas,sempre belas e fatais.Por isso são tão apreciadas.
Mas já eram 21:30 e seu perfume já se esvaia do pescoço,mas ela não chegava.Ele olhou vagamente para a rua.22:00.Já chega.
Ele saiu cabisbaixo pelas ruas daquela pequena cidade,e,com algumas doses na cabeça,adentrou uma rua pequena,um beco.Lá no fundo,com pouca luz,distinguia-se um homem e uma mulher.E pareciam estar bem aconchegados.Ele se aproxiou cautelosamente.Lembrou-se de sua querida.Os longos cabelos caidos pela costa.A tiara que usava sempre,vermelha.Ele sentia algo estranho.Lembrou-se da voz dela.Calma e suave,como uma brisa.Arrepiou-se.Lembrou-se de suas vestes.Sempre vestidos.Mas ele piscou,e já estava perto do casal.Ele não estava se lembrando da sua amada.Ele agora a estava vendo.
-A..a..amor,não é nada do que...
-Amor?
Ele deixou o buquê cair.Aquelas rosas,tão bem cuidadas,e regadas e cortadas.Carinhosamente colocadas e um lugar muito aconchegante.Onde não pudessem ser machucadas.Agora refletiam seu relacionamento.Lembrou-se que pedira que ela regasse as rosas um pouco mais cedo naquele dia.Ela não o fizera.Isso também refletiu seu relacionamento.Ele não daria conta de tudo sozinho.Não para sempre.Ela devia estar ajudando-o.Ela olhou as rosas.Algumas estavam meio murchas,secas.Ela também se lembrou.Uma lágrima escorreu e pingou na rosa.A rosa secou mais ainda.Ela estava sentindo pena dele.
Ele deu meia volta e se sentou em um banco de praça.Lembrando que pela primeira vez conseguira amar alguém.Mas parece que não era a hora certa.Porque tinha que ser tão difícil assim?
Puxou um cigarro,acendeu e tragou.Começou a andar pela velha avenida onde a conhecera.Comprou uma garrafa de whisky e vagou.Vagou.Vagou.Sem rumo.Fechou os olhos.Lembrou-se de uma frase: " Amar é como morrer.Você só pode uma vez.E não tem volta." E continuou andando.Com um cigarro,uma garrafa de whisky,e a certeza de que um dia,voltaria pela mesma estrada que percorrera e veria o sorriso de algo que um dia fora seu.Lembrou-se de outro ditado. "Dizem que a morte tem salvação.Talvez o amor ainda possa ser salvo".Abriu os olhos,e agora já sorria.


FIM